“Quando se faz educação, sempre será
em favor de alguém e, consequentemente, contra alguém” Ana Maria Araújo Freire em
entrevista à Agencia Adista
Povo Negro em luta! |
Em favor de quem
vem sendo feita a educação na UFES? E contra quem?
Tal questionamento não deve ser, e não aceitamos
que seja, respondido por uma bela carta ou por um discurso dos que fazem a UFES
ser apenas dos que por ela podem pagar. Essa questão é respondida
cotidianamente através das situações vivenciadas por toda pessoa pobre que
comete a ousadia de ingressar nessa universidade. Essa é uma questão das
mulheres, das pretas e dos pretos, das favelas, da comunidade LGBTT! Temos
ouvido que esse lugar não nos pertence e muitas vezes o povo tem sido expulso
da UFES.
Somos expulsas e
expulsos pelo desprezo à nossa história e realidade em nome da neutralidade
acadêmica; pela mediocridade e burocracia da assistência estudantil; pela
dificuldade de se referenciar em um corpo docente e em uma administração branca
e majoritariamente racista e machista; pelos currículos elitistas e cansativos;
pela desvalorização da extensão que aproximaria a universidade do povo; pelas
pouquíssimas vagas na creche para crianças filhas de estudantes; pela recusa da
reitoria em se posicionar sobre a fala racista absurda de um de seus docentes
sobre a política de cotas; pela secundarização, terceirização da prioridade na
construção da moradia estudantil; e, dentre as tantas mais possíveis formas que
poderíamos listar, somos expulsas e expulsos a socos, pontapés e sob ameaças de
armas de fogo por parte da guarda patrimonial.
Estudantes e/ou
cidadãos capixabas, brasileiros, latinos, africanos, mundiais: não precisamos
pedir permissão para ocupar o ESPAÇO PÚBLICO da Universidade Federal do
Espírito Santo! A única universidade pública do ES não recebeu autorização do
povo para agir dessa forma. Vivemos no estado que mais mata jovens negras e
negros, o segundo que mais mata mulheres. A universidade deve entender seu
papel social e comprometer-se em reverter esses números, não em afirmá-los!
Não legitimamos
ações truculentas da guarda patrimonial, que com aprovação da reitoria vem
reprimindo atividades culturais nas dependências da UFES. Inclusive, entendemos
que a forma de compor uma política de segurança na universidade é ocupando os
espaços ociosos com produção de cultura e arte populares. Não legitimamos ações
de perseguição pessoal a ninguém, principalmente quando essas ações se
caracterizam como tortura, ações praticadas pela guarda patrimonial nas
dependências da Universidade. A guarda patrimonial armada circula pelo campus
como o faz a polícia pelas cidades e, como a polícia, não escolhe seus alvos de
maneira aleatória: agem com força desproporcional contra pessoas desarmadas e quando
a violência não parte da própria guarda, mas se comete contra os mesmos alvos,
a resposta é a conivência, o silêncio e até mesmo o deboche!
Foi o que aconteceu
ontem enquanto era servido o jantar no Restaurante Universitário. Em frente ao
RU e diante de um guarda patrimonial devidamente uniformizada e armada, um
rapaz negro de 16 anos, estudante da rede pública estadual, foi espancado por 5
jovens sem nenhuma interferência da guarda ali presente. Como se não bastasse a
omissão, a guarda ainda riu do ocorrido. Estudantes que estavam no RU, e outros
que passavam pelo local, interviram em atendimento aos gritos de socorro. A
guarda respondeu com deboche quando questionada sobre a inatividade frente à
violência, reforçando as ameaças a que o jovem estava sujeito e o sentimento de
medo.
A reitoria é
conivente com as ações da guarda patrimonial, já que as ordens partem da
administração central ou são encobertas por ela. Não aceitaremos mais o
silenciamento dos gritos das mulheres, do povo negro e da periferia! Que a
reitoria se posicione JÁ sobre o acontecido, e que refaça sua política de
segurança!
Aqueles que marcam
os lugares na universidade, que definem quem sentará nas cadeiras e quem lavará
os banheiros, são os mesmos que marcam os números dos e das pretas pobres em
lápides ou no cárcere. Quem orquestra o genocídio da juventude negra, que nos
mata nos morros e favelas, não exclui a universidade de seu coro, ela precisa
existir como um sonho impossível! Não comporemos esse coro, entoaremos de volta
um coro preto, feminista e popular. Gritamos e cantamos por uma sociedade em
que seja mais fácil a juventude preta e pobre entrar na universidade do que na
prisão!
Setor de Negras e Negros do Levante Popular da Juventude - ES
Setor de Negras e Negros do Levante Popular da Juventude - ES
Avante estudantes discriminados do Brasil!
ResponderExcluirRaja mesmo contra esta administração branca, racista e machista!